Por que o câncer em jovens adultos está se tornando mais comum?
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- 23 de fev.
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Quando Luisa Toscano descobriu que tinha câncer de mama, ela ficou chocada.
"Foi completamente inesperado", diz a brasileira de 38 anos e mãe de dois filhos.
"Eu era jovem, saudável, em forma e não tinha fatores de risco — isso não deveria acontecer comigo. Eu não conseguia acreditar. O câncer parecia tão distante da minha realidade."
Luisa foi diagnosticada com câncer em estágio três em março de 2024, o que significava que a doença já estava em estágio avançado.
Ela fez mais de quatro meses e meio de quimioterapia, seguida de cirurgia para remover parte da mama e, em seguida, radioterapia. Luisa concluiu seu tratamento em agosto, mas ainda precisa tomar medicamentos para evitar que o câncer volte.
"A quimioterapia foi agressiva, mas meu corpo aguentou bem", ela lembra. "O que eu atribuo a ser ativa e ter um corpo jovem e resiliente."
Então veio a cirurgia.
"Felizmente, não precisei remover meu seio inteiro. A parte mais difícil foi perder meu cabelo. Tudo aconteceu muito rápido e intensamente. Quando eu me olhava no espelho, ficava assustada, e isso afetou meus filhos também."
A história de Luisa não é isolada, mas destaca uma tendência global crescente: mais adultos jovens estão sendo diagnosticados com câncer, geralmente sem histórico familiar da doença.
O câncer é mais comum em pessoas mais velhas devido a fatores biológicos, ambientais e de estilo de vida; por exemplo, o envelhecimento aumenta as divisões celulares, levando ao acúmulo de mutações e a um maior risco de câncer.
Portanto, os oncologistas há muito tempo associam os diagnósticos precoces de câncer em pessoas mais jovens a fatores genéticos herdados, como mutações BRCA1 e BRCA2 no câncer de mama.
No entanto, mais pacientes, como Luisa, não têm mostrado sinais claros de predisposição genética.
Aumento no número de casos
Um estudo recente publicado no "BMJ Oncology" revelou que a incidência de câncer de início precoce entre adultos com menos de 50 anos em todo o mundo aumentou em 79% entre 1990 e 2019, com mortes relacionadas ao câncer no mesmo grupo aumentando em 28%. O estudo analisou 29 tipos de câncer em 204 países.
Da mesma forma, um relatório na publicação científica "The Lancet Public Health" revelou que as taxas de 17 tipos de câncer aumentaram constantemente entre gerações nos Estados Unidos, particularmente entre a Geração X e os millennials (nascidos entre 1965 e 1996).
Um novo relatório da American Cancer Society afirma que as taxas de incidência de câncer de mama entre mulheres brancas com menos de 50 anos aumentaram em 1,4% ao ano, em comparação com 0,7% entre aquelas com 50 anos ou mais entre 2012 e 2021.
Outros tipos de câncer, como câncer nasofaríngeo, de estômago e colorretal, também aumentaram entre adultos jovens, de acordo com o relatório do BMJ Oncology.
Até agora, fatores alimentares — como dietas ricas em carne vermelha e sódio e pobres em frutas e leite — juntamente com o consumo de álcool e uso de tabaco, estão entre os principais suspeitos, de acordo com os relatórios do BMJ Oncology e do Lancet.
E a obesidade está fortemente ligada ao aumento do risco de câncer por meio de inflamação e desregulação hormonal, diz a Organização Mundial da Saúde.
O relatório da Lancet observa que 10 dos 17 cânceres que estão aumentando entre os jovens nos EUA estão relacionados à obesidade, incluindo câncer de rim, ovário, fígado, pâncreas e vesícula biliar.
No entanto, esses fatores não explicam todos os casos.
Os cientistas também estão explorando outras potenciais causas. Alguns argumentaram que a exposição constante à luz artificial de dispositivos ou postes de luz pode atrapalhar o relógio biológico, aumentando os riscos de cânceres como mama, cólon, ovário e próstata.
Outros estudos sugerem que o trabalho em turnos, com exposição prolongada à luz à noite, também pode reduzir os níveis de melatonina, promovendo o crescimento do câncer.
Outros pesquisadores argumentaram que aditivos alimentares ultraprocessados, como emulsificantes e corantes, podem causar inflamação intestinal e danos ao DNA. As perturbações intestinais estão relacionadas não apenas ao câncer colorretal, mas também aos cânceres de mama e de sangue, de acordo com a American Association for Cancer Research.
O aumento do uso de antibióticos — estimado em 45% globalmente desde 2000 — especialmente entre crianças pequenas, também pode ser outro culpado, pois perturba o microbioma intestinal, dizem alguns pesquisadores.
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